Cap 17 – O Segredo de Batilda

- Harry, pare.

- O que foi?

Eles alcançaram o túmulo de um desconhecido. Abbott.

- Tem alguém nos observando, eu posso sentir, atrás dos arbustos.

Eles pararam completamente em silêncio, segurando um no outro, fitando o preto denso no limite do cemitério. Harry não podia ver nada.

- Você tem certeza?

- Eu vi algo se movendo, eu posso jurar, eu vi...

Soltou-se dele para deixar livre o braço da varinha.

- Nós parecemos trouxas - Harry apontou.

- Trouxas só estariam deixando flores nas sepulturas dos pais! Harry, eu tenho certeza que tem alguém lá fora.

Harry pensou no História da Magia; o cemitério deveria ser assombrado. E se...?

Mas então ele ouviu um farfalhar e viu um pequeno redemoinho que expulsava neve na moita a qual Hermione tinha apontado.

- É um gato - disse Harry um segundo depois, ou dois - ou um pássaro, Se fosse um Comensal da Morte nós deveriamos estar mortos agora. Mas vamos embora daqui e nós podemos nos cobrir com a Capa.

Olharam de relance para trás repetidamente enquanto faziam seu caminho para fora do cemitério. Harry, que não tinha se sentido tão bem-disposto quanto ele pretendia ao confortar Hermione, estava grato por alcançar o portão e o pavimento úmido. Eles puxaram a Capa de Invisibilidade sobre eles mesmos. O bar estava mais cheio do que antes: muitas vozes lá dentro estavam agora cantando canções de Natal que se tinham ouvido enquanto se aproximaram da igreja. Por um momento, Harry considerou se refugiarem lá dentro, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa Hermione murmurou: “Vamos por aqui”. E o puxou para baixo na rua escura, o guiando para fora da vila na direção oposta da qual eles tinham entrado. Harry poderia marcar o ponto onde as casas de campo terminavam e a ruela se transformava em território aberto de novo. Eles andaram o mais rápido que ousaram, após mais janelas reluzentes com luzes multicoloridas, os contornos escuros das árvores de Natal através das cortinas.

- Como nós vamos encontrar a casa da Batilda? - perguntou Hermione, que estava tremendo um pouco e continuava dando olhadelas por cima dos ombros.

- Harry? O que você acha? Harry?

Ela puxou seu braço, mas Harry não estava prestando atenção. Ele estava olhando para a massa negra parada no fim desta linha de casas. No próximo momento ele tinha se apressado, arrastando Hermione junto com ele; ela escorregou um pouco no gelo.

- Harry...

- Olhe... Olhe pra isso, Hermione...

- Eu não... Oh!

Ele podia ver, o feitiço Fidelius devia ter morrido com Tiago e Lílian, a cerca havia crescido selvagem dezesseis anos depois que Hagrid o pegou dos escombros, muitos pedaços da construção ainda estavam em pé no meio da grama alta, a hera alta se amontoava por cima da neve, o lado direito do segundo andar estava todo explodido, lá Harry tinha certeza, era onde foi lançada a maldição, ele e Hermione pararam no portão, admirando os escombros do que foi uma casa, e a memória de quem a defendeu.

- Por que será que ninguém nunca reconstruiu? – sussurrou Hermione.

- Talvez você não pode reconstruir? – Harry respondeu - Vai ver o dano causado pela magia negra não pode ser reparado.

Ele escorregou uma mão por de baixo da capa, colocou a sua mão no portão enferrujado e coberto com neve grossa, não desejando abrir, mas por colocar a mão em um pedaço do que era sua casa.

- Você não vai entrar? Não parece seguro... Pode ser que... Oh, Harry olhe!

O toque dele no portão parecia ter feito aquilo, um símbolo saiu do chão na frente deles, passando pelas urtigas e ervas daninhas, como uma bizarra flor multicolorida que cresce muito rápido, e as letras douradas na madeira diziam:


Bem aqui, na noite de 31 de outubro de 1981,
Lílian e Tiago Potter perderam suas vidas.
E seu filho Harry se tornou o único bruxo

que já sobreviveu a uma maldição da morte.

Sua casa, invisível aos trouxas, permanece

intacta na memória dos Potters

e a violência que rachou sua família.

E em volta dessas letras douradas havia marcas e escrituras de bruxos que visitaram o lugar onde o garoto sobreviveu, alguns assinavam seu nome, outros cravaram suas iniciais na madeira, e alguns deixaram mensagens, a que parecia mais recente dizia:

Boa sorte Harry Potter, onde quer que esteja.
Se você ler isto, nós estaremos te cobrindo!

Longa vida Harry Potter.

- Eles não deveriam ter escrito nas letras - disse Hermione indignada.

Harry não deu atenção a ela:

- E brilhante, estou feliz que tenham feito...

Eles perceberam que uma grande figura se movia pesadamente na rua atrás deles, a luz da praça longínqua mostra apenas sua silhueta, Harry pensou muito, muito antes de julgar que era uma mulher, se movimentando escorregadiamente apreensiva, o seu vigor, sua curvatura, seu modo de andar arrastado deu a impressão de ser muito, muito velha, eles assistiram em silêncio ela se aproximar da rua deles, Harry estava esperando que ela entrasse em alguma das cabanas conforme ela andava, mas ele sabia instintivamente que ela não iria, ela se aproximou deles, ficando apenas algumas passadas no meio da rua congelada os encarando, ele não precisou do beliscão de Hermione pra saber que não havia chances da mulher ser trouxa, ela estava olhando para uma casa que deveria ser invisível para ela, mesmo se ela não fosse uma bruxa, esse comportamento seria muito suspeito, sair na noite fria para ficar olhando uma ruína?

Por todos os sensos da mágica normal, ela não poderia ver Harry e Hermione sendo trouxa, mas pelo visto ela sabia que eles estavam ali e sabia quem eram, ela ergueu a mão com luva e acenou.

Hermione se moveu para perto de Harry embaixo da capa e seu braço apertou o corpo dele.

- Como ela sabe? - sussurrou Hermione

Harry estava atordoado, a mulher acenou mais vigorosamente, Harry não encontrou motivo para não responder a convocação da mulher, ele tinha cada vez mais suspeitas sobre sua identidade, parada no meio da rua deserta e congelada acenando para eles.

Será que seria possível que ela estivesse os esperando? Que Dumbledore tinha avisado que eles viriam aqui no final, que ela tinha os seguido do cemitério ate esse lugar, Harry tinha uma suspeita sobre os poderes que dela, que ele só viu em Dumbledore e mais ninguém, finalmente eles tiraram a capa.

- Você é Batilda? - perguntou ele.

Ela acenou confirmando. Harry levantou as sobrancelhas e Hermione lhe deu um pequeno sinal. Eles recolocaram a capa.

Eles seguiram a mulher e ficaram parados atrás dela, eles passaram muitas casas, então ela virou em um portão, eles passaram pelo pátio principal, passou um jardim super crescido e mal cuidado, ela colocou a chave na porta, abriu, e se moveu para o lado os deixando passar.

Ela cheirava mal, ou talvez fosse à cassa dela, Harry coçou o nariz e tirou a capa, agora que ele estava perto, Harry pôde ver a quão pequena ela era, a grande idade a mantinha curvada, ela fechou a porta atrás deles, suas articulações eram mortificadas e azuladas, seus olhos tinham catarata e eram cobertos por uma estranha pele esbranquiçada, as veias em seu rosto pareciam profundas, Harry desejou que pudesse ajudá-la, mas mesmo se pudesse, ele sabia que era uma bruxa que tinha praticamente perdido a identidade.

O cheiro de idade, de poeira, das cortinas sujas e das roupas mal lavadas, ela estava coberta por um chalé preto, os cabelos acinzentados preso por grampos.

- Batilda? - repetiu Harry.

Ela confirmou com a cabeça, Harry estava ciente que o medalhão frio comprimia sua pele, a coisa dentro dele parecia ter acordado, ele sentia o ouro pulsando, será que a coisa dentro sabia que ia ser destruída?

Batilda passou por eles empurrando Hermione, ela não a viu, os levou para um lugar que parecia uma pequena sala de estar.

- Harry, não estou certa sobre isso - disse Hermione - olha o tamanho dela, nos podemos sobrecarregá-la, nos devíamos saber que ela estaria assim, Muriel a chamou de gagá.

- Venham - disse Batilda.

Hermione deu um pulo e agarrou o braço de Harry.

- Está tudo bem - disse Harry aceitando o convite e entrando na saleta.

Batilda estava rodeando o lugar acendendo velas, que agora mostravam toda a sujeira, o pé deles fazia fumaça ao pisar, o nariz de Harry detectou o cheiro de úmido e mofado do lugar, tudo junto tinha um cheiro podre, Harry desejou não ter entrado na casa de Batilda para ver o que ela queria, ela parecia ter esquecido da mágica, para acender velas, limpar as coisas e tudo mais.

- Me deixe fazer isso – disse Harry.

Ela ficou olhando ele acender a velas com sua varinha, agora o local iluminado mostrava uma prateleira com grandes livros que pareciam valiosos, mas estavam cobertos com mofo verde.

O último lugar que Harry apoiou um castiçal foi um baú com gavetas que era coberto por um número grande de fotografias empoeiradas, quando ela viu que tudo estava acesso e a chamas vivas, Hermione apontou sua varinha para as fotografias e disse:

- Tergeo.

A poeira sumiu, mostrava muitas pessoas que pareciam importantes com Batilda, meia dúzia de fotografia tinha sido removida deixando só a armação do retrato. Um homem de cabelos dourados sorria importante na foto, vigorosamente, Harry o reconheceu: Gregorovitch o artesão de varinhas, e no outro lado um jovem com cabelos compridos, Dumbledore jovem, Harry reconheceu a foto de “A Vida e as Mentiras de Alvo Dumbledore”.

- Senhora Bagshot, quem é esse? - disse Harry colocando as mãos em uma fotografia.

Batilda continuava no meio da sala olhando Hermione acender velas para ela.

- Senhora Bagshot? - disse Harry avançando em direção a ela com o retrato nas mãos, a Horcrux pulsava mais forte em seu peito. Harry repetiu - quem é esse homem?

Ela espreitou Harry solenemente.

- Você sabe quem é ele? - repetiu Harry muito mais devagar - você sabe quem é esse homem? Como ele é chamado?

Ela meramente deu atenção a Harry, ele pareceu frustrado, como Rita Skeeter tinha consultado suas memórias?

- Harry o que você está fazendo? - perguntou Hermione.

- Essa foto Hermione... É o ladrão, é o ladrão... - disse Harry - ladrão que roubou Gregorovitch - Quem é ele? Batilda, quem é esse?


Mas Batilda apenas o encarou.

- Senhora Bagshot porque nos pediu para vir aqui? - disse Hermione elevando a própria voz - Tem algo que a senhora nos deveria contar?

Sem dar nenhum sinal de que ela tinha ouvido Hermione, ela se aproximou alguns passos de Harry e inclinou a cabeça olhando para o hall.

- Você quer que nos retiremos?

Ela negou com a cabeça, depois apontou para ele, depois para si mesma e depois para o teto.

- Ah certo... Hermione, eu acho que ela quer que vá lá em cima com ela.

- Tudo bem - disse Hermione - vamos...

Quando Hermione se virou para ir, Batilda sacolejou a cabeça negativamente e apontou para Harry e depois para ela novamente.

- Ela quer que eu vá com ela, sozinho.

- Por quê? – disse Hermione. Sua voz ecoou clara e alta na sala rodeada pelas velas e a velha olhou tristemente para os pés.

- Vai ver Dumbledore disse a ela para dar a espada para mim, e apenas para mim.

- Você acha que ela sabe quem você é?

- Acho - disse ele olhando no fundo dos leitosos de Batilda - eu acho que ela sabe.

- Bem, então tudo bem, seja rápido Harry.

- Me mostre o caminho - disse ele a Batilda.

Ela pareceu entender, porque caminhou para a porta que levava ao segundo andar, Harry olhou para Hermione e deu um leve sorriso. Mas ele não tinha certeza de que ela viu, ela olhava em direção a estante de livros interessada quando ele saiu da sala, sem que fosse visto, ele colocou a foto do ladrão dentro de sua jaqueta.

As escadas eram escarpadas e estreitas, ele subiu com suas mãos erguidas atrás das costas de Batilda, para assegurar que ela não caísse em cima dele, ela subiu vagarosamente e virou rapidamente à esquerda levando o a um quarto de teto baixo.

O lugar era escuro como uma caverna e sujo como embaixo da cama, ela fechou a porta e ele foi engolido pela escuridão.

- Lumus - disse ele e a varinha acendeu.

Batilda estava ao seu lado e ele não tinha ouvido ela se aproximar.

- Você é Potter? – ela sussurrou.

- Sou sim...

Ela afirmou devagar. Harry sentiu a Horcrux batendo forte, mais rápido até que seu coração; Era uma sensação desagradável e ágil.

- Você tem algo para mim? - Harry perguntou, mas ela parecia distraída com a luz que saía de sua varinha.

- Você tem algo para mim? - repetiu ele.

Ela fechou os olhos e coisas severas aconteceram nesse momento, a cicatriz de Harry ardeu como nunca, a Horcrux pulsava tão forte que fazia mexer seu suéter, a sala escura se dissolveu por um momento, ele deu um pulo de alegria e disse em uma voz fria: “Segure-o!”.

Ele balançou onde ficou: O quarto escuro e mal-cheiroso pareceu fechar sobre ele novamente, ele não sabia o que estava acontecendo.

- Você tem algo para mim? - repetiu pela terceira vez, mais alto.

- Bem aqui - disse ela apontado para o canto. Harry levantou sua varinha apontando para uma mesa engavetada coberta por uma janela encortinada.

Dessa vez ela não guiou Harry, ele avançou entre ela e a mesa, ele não queria tirar os olhos dela.

- O que é isso? - perguntou Harry quando chegou à mesa empoeirada que cheirava a lavanderia suja.

- Ali... - disse ela apontando para uma massa amorfa.

No instante que ele olhou, procurando na bagunça por um punho de espada, um rubi, com o canto dos olhos ele viu, e ficou aterrorizado, ele viu o corpo da velha caindo e uma cabeça enorme de cobra onde devia estar o pescoço.

Quando ele levantou a varinha, a força da mordida no seu antebraço fez a varinha girar e bater no teto, a luz desapareceu vertiginosamente, então um poderoso golpe de cauda atingiu seu diafragma o fazendo perder o ar, ele sentiu as costas baterem no pé da mesa e recaírem sobre um monte de roupa suja.

Ele rolou de lado, desviando a cauda da cobra por pouco e batendo na parede, onde pedaços de vidro caíram sobre ele, lá de baixo ele escutou a voz de Hermione: “Harry?”.

Ele não conseguiu pegar ar suficiente para responder de volta, e caiu no chão sentindo os lados da cobra o apertar, musculosamente.

- Não - disse ele fixo ao chão.

- Sim - sussurrou uma voz – Simmmm... Seguro-te... Seguro-te...

- Accio... Accio Varinha...

Mas nada aconteceu, ele aparentemente precisava das suas varinhas para fazer a cobra se desvencilhar, ele sentiu o aperto no seu busto e comprimindo a Horcrux contra seu peito, uma camada de gelo envolveu seu coração e seu cérebro, a luz totalmente obliterada, esta indo...

Um coração de metal pulsava fora do seu peito, ele estava voando, voando com triunfo no coração, sem precisar de vassoura ou Testrálio...

Ele estava bruscamente acordado na escuridão com o cheiro azedo, ele se levantou e viu a cobra golpeada no chão, Hermione lançou uma maldição na janela pregada que deu outro banho de vidro em Harry e seu pé escorregou em alguma coisa parecida com um lápis, como algo... Sua varinha.

Ele se curvou e pegou, agora o quarto estava cheio de cobra, a cauda mexendo, Harry não via Hermione em lugar algum e por um momento pensou o pior, mas então ouve um lampejo de luz vermelha e a cobra foi arremessada no ar atingindo Harry no rosto, colisão após colisão, Harry ficou de pé e ergueu a varinha, mas sua cicatriz doeu tão intensamente, tão dolorosamente.

- Ele está vindo! Hermione, ele está vindo!

Quando ele disse isso, a cobra assobiou selvagem. Tudo estava um caos, os lados da parede estavam amassados e Harry pulou para cima da cama agarrando uma figura escura que reconheceu como Hermione...

Ela se encolheu com dor e arrastou as costas pela cama, a cobra se ergueu novamente, Harry sabia que isso era pior do que se ela tivesse avançado. Ele já devia estar no portão pela dor de sua cicatriz...

A cobra se arremessou quando ele deu um salto evasivo, arrastando Hermione com ele, como atingiu, Hermione gritou “Cofringo!”, e o feitiço atravessou o quarto quebrando o espelho do armário, e ricocheteou do teto para o chão várias vezes, Harry sentiu o vidro cortando as costas da sua mão, eles pularam da cama para a mesa e depois para janela, girando no ar...

Sua cicatriz queimou e de repente ele era Voldemort atravessando o quarto, suas longas e brancas mãos tocaram o parapeito da janela como ele observou o homem careca e a mulher pequena, e então soltou um grito de ira, um grito que ecoou pelos jardins escuros e pelo sino da igreja no dia de Natal.

E o grito de Harry era o grito dele, a dor de Harry era a dor dele... Isso podia acontecer ali, onde isso aconteceu antes... Aqui, dentro de vista daquela onde ele havia conhecido tão de perto o que era morrer... Morrer... A dor era tão terrível... Arrancado do seu corpo, mas se ele não tinha corpo, porque seu coração doía tanto, se ele tinha morrido porque se sentia uma dor tão insuportável, tinha a dor causada à morte, tinha...

Na noite úmida e molhada, duas crianças vestidas como abóboras corriam pela praça, e os vidros da loja coberto com teias de aranha, todos os trouxas espalhafatosos, brincando de um mundo que eles não acreditam, que eles não sabem que existem, todo aquele propósito, poder e incerteza que ele sempre sabia naquelas ocasiões, não raiva... Aquilo era para almas mais fracas que a dele... Mas triunfo, sim... Ele tinha aguardado por aquilo, ele tinha esperado por aquilo...

- Bela fantasia senhor!

Ele ouviu um garoto dizer em quanto ele chegava perto para segurar sua capa, ele viu o medo estampado em sua cara, então a criança gritou e correu... A capa que o garoto encostou parecia suja... E com um simples movimento de sua varinha e o garoto não chegaria em sua mãe... Desnecessário, um pouco desnecessário... Ele se movia pela rua escura ate que viu sua destinação, o feitiço Fidelius quebrado, ele andou devagar... fez menos barulho do que as folhas mortas arrastando na pavimentação... E ouviu uma mãe gritando palavras que ele não podia ouvir... O cabelo vermelho escuro caindo na sua cara, ela jogou sua varinha no sofá e gritou, o portão rangeu ao se abrir, mas Tiago Potter não ouviu... Ele tirou a varinha do bolso com a mão branca e apontou para a porta que abriu bruscamente... Tiago veio correndo pelo hall, foi fácil... Muito fácil... Ele nem tinha pego sua varinha...

- Lílian pegue o Harry e corra, e ele... Eu o atraso...

Atrasá-lo, sem uma varinha nas mãos!... Ele riu antes de lançar a maldição...

- AVADA KEDAVRA!

O raio verde preencheu o apertado corredor, iluminou o carrinho de bebê jogado contra a parede, fez os corrimões brilhar como varas iluminadas, e Tiago Potter caiu no chão como uma marionete cujas cordas foram cortadas...

Ele pôde ouvir o grito no andar superior, ela gritava, havia pavor em sua voz, ela, pelo menos não tinha o que temer... Ele subiu as escadas ouvindo o desespero dela para obstruí-la... Ela não tinha varinha para se defender... O quão tolos tinham sido e como confiaram, pensando que sua segurança estava a salvo com seus amigos, que armas podiam ser descartadas em alguns momentos...


Ele forçou a porta ate abrir, e tirou as cadeiras e caixas empilhadas atrás dela com sua varinha, ele viu a mulher de cabelos vermelhos com filho no colo, ela o colocou atrás dela, ficou de pé e abriu seus braços na frente dele, como se pudesse ajudar, como um escudo humano...

- Não Harry, não Harry, por favor, não Harry!

- Saia da frente, garota tola... Saia da frente agora!

- Harry não, por favor, me leve ao invés dele...

- Este é o meu último aviso...

- Não Harry! Tenha piedade... Tenha piedade... Harry não! Harry não! Por favor... Eu farei qualquer coisa...

- Saia da frente. Saia da frente, garota!

Ele poderia ter empurrado-a, mas seria melhor extinguir toda a família...

Um raio de luz verde atravessou o quarto e ela caiu como o marido. A criança não tinha chorado todo esse tempo. Ele podia ficar, apertando as barras de seu berço, e ele olhou para o rosto do intruso com um profundo interesse, talvez pensando que era seu pai que estava embaixo daquela capa; fazendo mais luzes bonitas e sua mãe iria aparecer de repente, rindo...

Ele apontou a varinha cuidadosamente para o rosto do menino: ele queria ver isso acontecendo, o garoto oferecia um perigo inexplicável. A criança começou a chorar: ele viu que não era Tiago que estava. Ele não gostava dele chorando, ele nunca agüentou ficar ouvindo crianças chorando, resmungava:

- Avada Kedrava!

Então seu corpo se esvaeceu, ele tinha que se esconder, longe, muito longe, não naquela casa onde o menino chorava, mas longe... Muito longe...

- Não - ele lamentou.

A cobra assobiava com a língua bifurcada, se misturando no chão, ele tinha matado o garoto... Ele era o garoto...

- Não...

Ele se colocou de pé na janela da casa de Batilda, imerso nas memórias da sua grande perda, ele olhou para seus pés e pegou algo no meio dos pedaços de vidro e escombros, algo assombroso... Algo inacreditável...

- Não...

- Harry está tudo bem, você está bem!

Ele pegou no chão a fotografia amassada, era o ladrão, o ladrão que ele estava procurando.

- Não... Eu cai... Eu cai...

- Harry, está tudo bem, acorde, acorde!

Ele era Harry… Harry, não Voldemort e a coisa que assobiava não era uma cobra... Ele abriu os olhos...

- Harry... - Hermione sussurrou - Você está se sentindo... Bem?

- Estou - mentiu ele.

Ele estava na tenda, em cima de uma pilha de travesseiros, ele percebeu que era quase de manhã, pela quantidade de luz no teto transparecente da tenda e pela qualidade do frio. Ele estava molhado de suor; ele podia sentir isso pelos lençóis e cobertores.

- Nós escapamos.

- Sim - falou Hermione - usei o feitiço Hover [hover significa pairar] para nos tirar de lá... Não podia ter te deixado, você não estava... Bem, você não estava normal...

Ele percebeu um sombreado roxo de baixo dos olhos dela, e uma esponja em suas mãos, ela tinha molhado seu rosto.

- Você esteve doente – ela concluiu - bem doente.

- Há quanto tempo nós voltamos?

- Horas atrás, já é quase de manhã...

- E eu estive... Bem, inconsciente?

- Não exatamente - explicou ela cautelosa - você esteve murmurando e gemendo coisas... – ela adicionou, deixando Harry se sentir preocupado. O que ele teria feito? Gritado maldições feito Voldemort, chorado feito um bebê no berço?

- Eu não conseguia tirar a Horcrux de você - disse ela, e ele sabia que ela estava querendo mudar de assunto - Estava presa, presa no seu peito; Você tem uma marca... Me desculpe, eu tive que usar um feitiço Severo (??severing??) para tirar de você, a cobra te mordeu também... Eu limpei e pinguei um pouco de Ditânio...

Ela tinha tirado a camisa que ele vestia, estava jogada no chão, ele pode ver uma marca oval no seu peito onde o medalhão o tinha queimado e os ferimentos recém curados no seu antebraço.

- Onde você colocou a Horcrux?

- Na minha bolsa, acho melhor você não usar por um tempo.

Ele virou para o travesseiro e observou sua face cinza.

- Nós não devíamos ter ido a Godric’s Hollow. É tudo minha culpa, tudo minha culpa. Hermione, me desculpe.

- Não é sua culpa, eu também quis ir, eu acreditava que Dumbledore tinha deixado a espada lá pra você...

- Bem, nós nos enganamos... Não é ?

- O que aconteceu? O que aconteceu depois que vocês subiram? A cobra estava se escondendo em algum lugar? A cobra só apareceu de repente e a matou e te atacou?

- Não, ela era a cobra... Ou a cobra era ela... O tempo todo.

- O q-quê? - disse ela atônita.

Ele fechou os olhos e voltou a casa de Batilda, ele ainda podia sentir o cheiro podre, e a poeira.

- Não, a cobra estava dentro dela, ela estava morta há algum tempo...

Você-Sabe-Quem colocou a cobra lá para esperar. Você estava certa. Ele sabia que ia voltar...

- A cobra estava dentro dela?

Ele abriu seus olhos de novo. Hermione olhava revoltada, nauseada.


- Lupin disse que encontraríamos mágicas que nunca imaginamos – Harry falou - Ela não queria falar na sua frente porque era língua de cobra, tudo língua de cobra, eu não percebi, mas é claro que eu podia a entender. Quando chegamos lá em cima, ela mandou uma mensagem para Você-Sabe-Quem, eu ouvi acontecer em minha cabeça, eu o vi se sentindo animado, ele disse a ela pra me manter lá... e então...

Harry lembrou da cobra saindo do pescoço de Batilda, Hermione não precisava saber dos detalhes.

- ...Ela mudou, mudou para cobra e me atacou.

Ele olhou para as marcas no seu antebraço.

- Não era para me matar, era pra me segurar até Você-Sabe-Quem chegar.

Se ele tivesse matado a cobra, teria valido a pena, tudo valeria. Com dores no coração, ele sentou e tirou as cobertas.


- Harry, não, eu tenho certeza que você precisa descansar!

- Você é que precisa descansar. Sem ofensas, mas você esta horrível. Estou bem. Eu posso vigiar um pouco. Onde esta minha varinha?

Ela não respondeu, e sequer olhou para ele.

- Onde está minha varinha, Hermione?

Ela mordia o lábio, e lagrimas apareceram nos seus olhos.

- Harry...


- Onde está minha varinha?

Ela abaixou e pegou alguma coisa em baixo da cama e entregou a Harry, a varinha estava partida em duas, a cerne da pena de fênix mantinha a varinha ligada, a madeira estava toda estilhaçada, foi como se ele tivesse sofrido um terrível ferimento, tudo era uma mancha de caos e sofrimento. Então ela se virou para Hermione:

- Conserte. Por favor.

- Acho que não da pra consertar quando quebra assim...

- Por favor, Hermione, tente!

- R-reparo.

A varinha tentou se juntar, mas quase nada aconteceu e voltou para o lugar, Harry a pegou e disse:

- Lumus!

Faíscas saíram da varinha, ele a apontou para Hermione e tentou novamente:

- Expelliarmus!

A varinha dela se mexeu na mão, mas não saiu de sua mão, a varinha se partiu em dois novamente. Ele não podia acreditar, a varinha que tinha sobrevivido a tanto.

- Harry - sussurrou Hermione calmamente que ele mal podia ouvi-la - Eu sinto muito, muito mesmo. Acho que fui eu. Quando a cobra estava vindo, sabe, a cobra estava nos atacando e então eu usei um feitiço de explosão, tudo voou, deve ter... Deve ter atingido...

- Foi um acidente... - disse Harry. Ele se sentia vazio, chocado - Não tem problema acharemos um jeito de consertar...

- Harry, eu não acho que você possa... - disse Hermione com suas orelhas se escorrendo em sua cabeça – Lembra... Lembra do Rony? Quando ele quebrou a varinha, batendo o carro? Nunca foi a mesma ele teve que comprar uma nova...

Harry pensou em Olivaras, seqüestrado, mantido como refém de Voldemort; de Gregorovitch que estava morto. Como ele ia conseguir uma nova varinha?

- Bem... - suspirou ele e disse num tom de que mal se importava - Vou pegar a sua empresta. Enquanto estou de guarda.

Hermione entregou sua varinha para ele e se sentou na cama do seu lado, desejando nada mais do que se afastar dela.

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